top of page

A Montanha-Russa da Nvidia: do Pico da Inteligência Artificial à Maior Queda da História

  • Foto do escritor: Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
    Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
  • 29 de abr.
  • 4 min de leitura

Como a empresa símbolo da revolução da IA viu suas ações dispararem rumo ao topo de Wall Street e desabarem diante da ascensão tecnológica chinesa.


Felipe Ramos (Júnior no GN Poli)


ree


Nos últimos anos, poucos movimentos no mercado financeiro causaram tanto impacto quanto a ascensão meteórica das ações da Nvidia. O que começou como uma empresa voltada ao nicho de placas gráficas para gamers se transformou em uma das maiores potências tecnológicas do mundo, símbolo máximo da revolução da inteligência artificial. A valorização da Nvidia não foi apenas impressionante, foi histórica. Entre 2022 e 2024, a companhia viu suas ações dispararem impulsionadas por uma demanda global por poder computacional, especialmente para treinar e rodar modelos de inteligência artificial generativa. À medida que empresas como OpenAI, Microsoft e Google passaram a competir ferozmente por GPUs de última geração, as placas H100 da Nvidia se tornaram o “ouro do século XXI”.


Com esse movimento, a Nvidia rapidamente ultrapassou marcas simbólicas no mercado de capitais ao chegar a um valor de mercado superior a US$ 3,5 trilhões em 2024. Isso a colocou lado a lado com gigantes consolidadas como Apple, Microsoft e Saudi Aramco. A narrativa dominante era clara: a Nvidia seria o grande motor da IA pelos próximos 10 anos. Investidores institucionais, varejistas e fundos soberanos entraram com força no papel, alimentando ainda mais a euforia. A empresa se beneficiava de um monopólio no fornecimento de chips para IA, de um relacionamento simbiótico com as big techs do Ocidente e de uma capacidade de inovação tecnológica sem precedentes.


Mas como toda história de crescimento explosivo, a da Nvidia também encontrou um ponto de inflexão. Em janeiro de 2025, o mercado foi surpreendido por uma revelação vinda do outro lado do mundo: a DeepSeek, uma startup chinesa de inteligência artificial, que lançou um modelo de linguagem com performance equiparável e, em algumas tarefas, superior ao GPT-4 da OpenAI. O que realmente chocou Wall Street, no entanto, não foi o modelo em si, mas o fato de que ele havia sido treinado sem qualquer dependência das GPUs da Nvidia. A DeepSeek utilizou uma arquitetura proprietária baseada em chips desenvolvidos na China, com apoio direto do governo e integração com novas cadeias de suprimento locais. Em um mercado que já vinha apreensivo com as avaliações infladas de empresas de tecnologia, a notícia foi a faísca que acendeu um incêndio.


Em questão de horas, as ações da Nvidia despencaram mais de 15%, apagando cerca de US$ 600 bilhões em valor de mercado, que representou a maior queda da história em números absolutos para uma empresa listada. A correção não foi apenas sobre os fundamentos atuais da empresa, mas sobre o futuro que estava embutido nos preços. Pela primeira vez desde o início do boom da IA, o mercado passou a considerar seriamente que a hegemonia da Nvidia poderia ser desafiada. A dependência de seus chips já não era mais absoluta, e a concentração do setor começava a dar sinais de fragilidade.


Market Cap da Nvidia em trilhões de dólares (Fonte: Capital IQ)


ree

É importante destacar que, mesmo após a queda, a Nvidia continua a ser uma empresa altamente lucrativa e tecnologicamente relevante. Seu ecossistema de software, suas parcerias estratégicas e sua capacidade de inovação ainda são líderes no setor. A companhia também tem expandido sua atuação para segmentos como data centers, robótica, automação industrial e IA embarcada, além de investir em novas gerações de chips mais eficientes. No entanto, a narrativa de domínio absoluto e crescimento exponencial por uma década parece ter sido reescrita em questão de dias.


O episódio com a DeepSeek também trouxe à tona um novo capítulo da geopolítica tecnológica: a emergência da China como potência independente em inteligência artificial. O país não apenas criou um modelo competitivo, mas demonstrou capacidade de produzir sua própria infraestrutura de hardware, de modo a contornar as sanções americanas e se estabelecer no mundo digital. Essa tendência pode acelerar a fragmentação do mercado global de IA, de maneira a criar ecossistemas paralelos entre Oriente e Ocidente, e reduzir a centralidade de players como a Nvidia.


Agora, ao olhar para o futuro, nota-se que esse setor tecnológico ainda deve crescer de maneira robusta. A transformação digital das empresas está apenas no começo, e modelos de inteligência artificial serão aplicados em diversos setores, como saúde, direito, educação, engenharia e finanças. No entanto, a busca por eficiência energética, chips customizados e independência estratégica deve criar espaço para novos protagonistas.

Assim, a pergunta que muitos se fazem agora é: qual será a próxima Nvidia? A resposta pode não estar em uma empresa única, mas em um ecossistema de tecnologias que desafiem a lógica atual de centralização. Ou seja, o leque de candidatas que possam protagonizar o próximo boom é diverso.


No fim, a trajetória da Nvidia serve como um lembrete sobre o dinamismo dos mercados e a natureza acelerada da inovação tecnológica. Ela simboliza tanto o auge de um ciclo quanto os riscos de uma valorização excessiva baseada em expectativas quase utópicas. Para o investidor atento, este é um momento de cautela, mas também de oportunidade. Porque, como sempre no mercado, o próximo ciclo já começou, só não sabemos ainda onde.

bottom of page