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A Nova Estratégia dos Fundos de Investimento Brasileiros

  • Foto do escritor: Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
    Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
  • 2 de set.
  • 3 min de leitura

Fusões e aquisições no mercado brasileiro de Assets estão redesenhando estratégias para enfrentar os riscos e a incerteza atuais.


Francisco Behr (Junior no GN Poli)


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O ano de 2025 tem sido marcado por instabilidades macroeconômicas no Brasil e no cenário internacional. Nos Estados Unidos, as polêmicas em torno da gestão de Trump abalam expectativas globais, enquanto no Brasil, a Selic em patamar historicamente alto e as controvérsias na condução da política econômica aumentam a incerteza. Nesse ambiente de volatilidade, a confiança do investidor oscila, e os fundos de investimento, as chamadas Assets, sentem o impacto direto com o aumento dos resgates. Diante disso, gigantes do mercado anunciaram fusões, buscando se consolidar em meio às adversidades ao combinar capital e expertise para garantir maior eficiência.


O primeiro movimento envolve a união do Fundo Verde, com uma rentabilidade notável de cerca de 29.400% desde 1997, à Vinci Compass. O Verde, criado e gerido por Luis Stuhlberger, também conta com 25% de participação da Lumina Capital, de Daniel Goldberg, outro nome de destaque no mercado financeiro. O Verde, que já chegou a ter R$ 58 bilhões sob gestão em 2021, administra hoje cerca de R$ 17 bilhões. Esse montante agora se une aos R$ 300 bilhões da Vinci Compass. Pelo acordo, Stuhlberger continuará à frente do fundo pelos próximos cinco anos durante o período de transição.


O segundo movimento ocorre entre a Constellation, de Florian Bartunek, e a Aster, de Marcello Silva. Curiosamente, Silva havia deixado a Constellation em 2021 para fundar sua própria gestora, e agora retorna em uma união que simboliza mais do que números: a necessidade de convergência em tempos desafiadores. O patrimônio combinado, de aproximadamente R$ 3 bilhões, pode parecer modesto, mas simboliza um movimento estratégico crucial em busca de sinergia e solidez. Pelo acordo, Florian seguirá como CEO (Chief Executive Officer) da casa, enquanto dividirá o cargo de CIO (Chief Investment Officer) com Silva, reforçando uma gestão compartilhada e complementar.


Apesar das diferenças, os dois casos têm uma semelhança central: ambos refletem as pressões do momento econômico brasileiro. Para entender, é preciso lembrar como a maioria das Assets gera receita. Basicamente, existem duas fontes: a taxa de administração, cobrada independentemente do resultado do fundo (entre 0,5% e 4%), e a taxa de performance, que só entra em jogo quando a rentabilidade supera o índice de referência (entre 10% e 20%).


Rentabilidade, em % (Fonte: Mais Retorno):


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Nessa equação, a escalabilidade é peça-chave. Quanto maior o patrimônio sob gestão, mais relevante se torna a taxa de administração, que garante previsibilidade de receita mesmo em períodos de baixa performance. No entanto, em momentos de incerteza como o atual, a demanda por saques aumenta, afetando diretamente a receita das gestoras. Ao mesmo tempo, investimentos atrelados à taxa de juros (Selic, atualmente em 15% ao ano) se tornam um oásis em meio às incertezas e um concorrente quase imbatível nas condições atuais.


Juntando forças, os fundos conseguem preservar um patrimônio mais robusto sob gestão, transmitindo resiliência e solidez em tempos de incerteza. Essa consolidação não apenas garante maior eficiência operacional, como também fortalece a percepção de estabilidade perante investidores.


Esse tipo de movimento não é novidade no mercado financeiro. A própria Vinci se uniu à Compass no ano passado em busca de escala e fortalecimento de sua posição. Outros exemplos recentes incluem a parceria BTG–JGP Wealth e a associação Itaú Asset–E Fund Management. Nessas ocasiões, o saldo foi positivo: as empresas ampliaram sua base de clientes e conseguiram expandir para mercados nos quais antes não atuavam.


Olhando à frente, o futuro do setor dependerá de variáveis macroeconômicas decisivas: se a Selic iniciar uma trajetória de queda consistente, a atratividade da renda variável pode voltar a ganhar fôlego e reaquecer o fluxo de capital para os fundos multimercados; por outro lado, se a incerteza fiscal e política permanecer, é provável que novas fusões e aquisições continuem a redesenhar o mapa das gestoras no Brasil.


Em um cenário desafiador, as fusões recentes ensinam uma lição importante: a resiliência no mercado de fundos vai além da performance histórica, está na capacidade de adaptação. Consolidar patrimônio e unir expertises não é apenas uma reação aos saques e à Selic elevada, mas uma preparação para os próximos ciclos de mercado. Para o investidor, a confiança pode ser reconstruída ao observar como as gestoras se posicionam estrategicamente. No fim, solidez e visão de longo prazo caminham juntas, quem olhar além do curto prazo estará mais bem posicionado para o futuro.

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