top of page

Acordo Mercosul–União Europeia: Como a Marcopolo Está Posicionada?

  • Foto do escritor: Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
    Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
  • 5 de ago.
  • 4 min de leitura

Com o avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia, a Marcopolo enfrenta um novo cenário comercial repleto de riscos, concorrência estrangeira e oportunidades estratégicas.


Por Francisco Behr (Júnior do Grupo)


ree

O ano de 2025 vem sendo marcado pelo avanço do protecionismo nos Estados Unidos, intensificado pelas políticas tarifárias defendidas por Donald Trump. Como reação, países com laços comerciais com os EUA buscam novas alianças para mitigar os potenciais danos econômicos. Até mesmo aliados históricos de Washington se veem forçados a repensar suas estratégias de comércio exterior. Nesse contexto, diversos acordos comerciais ao redor do mundo (antes apenas cogitados) ganham força e se aproximam da concretização.


Tarifas Aplicadas por Donald Trump (Fonte: G1)


ree

É o caso do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que nunca esteve tão próximo de “ver a luz do sol”. Desde seus primeiros passos, ainda em 1994, o processo enfrentou uma série de obstáculos que adiaram sua materialização. No entanto, em 6 de dezembro de 2024, os blocos anunciaram a conclusão das negociações técnicas, um avanço significativo em relação aos anos anteriores. O objetivo do acordo é impulsionar o comércio entre os dois continentes, reduzindo tarifas e facilitando investimentos inter-regionais. Apesar disso, sua implementação ainda não está garantida, uma vez que países como França, Irlanda e Polônia têm apresentado resistência à ratificação do acordo, motivados por receios quanto à competitividade de seus setores diante de produtos que devem chegar ao continente a preços mais baixos.


Quanto aos produtos envolvidos, espera-se que o Brasil exporte mais commodities, como soja, carnes e frutas, enquanto os europeus devem enviar bens de maior valor agregado, como máquinas, produtos químicos e veículos. A maior facilidade de entrada desses produtos no mercado brasileiro pode tornar o ambiente mais competitivo em alguns setores, dificultando a permanência de certos players nacionais que precisarão lutar para manter seu espaço. Curiosamente, porém, algumas empresas brasileiras tendem a ser menos afetadas por esse novo cenário. Uma dessas exceções é a Marcopolo.


Em muitos países, a produção de ônibus é realizada de forma verticalizada, com uma única empresa responsável tanto pelo chassi quanto pela carroceria. No Brasil, porém, o setor opera de maneira distinta: é comum que o chassi e a carroceria sejam fabricados por empresas diferentes. Esse modelo fragmentado abre espaço para companhias especializadas, como a Marcopolo, uma das maiores e mais tradicionais encarroçadoras do país, com presença internacional. A empresa atua na fabricação de carrocerias para ônibus rodoviários, urbanos e micro-ônibus, além de operar o segmento Volare, que oferece modelos com chassi próprio desenvolvido internamente.


Com a maior facilidade de acesso ao mercado brasileiro por parte de players europeus, que contam com maior desenvolvimento tecnológico, surge a dúvida: como a Marcopolo pode aproveitar uma oportunidade criada por esse novo cenário? A resposta está diretamente relacionada à forma como o setor opera no Brasil.


Na Europa, a verticalização das linhas de produção não ocorre por acaso. Um dos principais meios de transporte inter-regional no continente é a ferrovia, muito mais desenvolvida do que no Brasil. Assim, a demanda por ônibus é concentrada, em grande parte, no segmento urbano e escolar, categorias que permitem maior padronização na produção.


No Brasil, por outro lado, o transporte rodoviário ainda tem papel central, seja por questões de custo, seja pela ausência de alternativas viáveis. Nesse contexto, encarroçadoras como a Marcopolo se especializaram em atender demandas extremamente específicas, com alto nível de customização. Essa capacidade de adaptação às necessidades dos clientes é justamente o que pode se tornar uma vantagem competitiva diante da entrada de concorrentes estrangeiros, já que é mais viável que os fabricantes de chassis concorram entre si do que adaptem seus processos para disputar com empresas altamente especializadas em carrocerias.


Entretanto, a chegada dos europeus ao mercado brasileiro não representa apenas oportunidades para a Marcopolo. Um dos principais riscos está associado à expansão de outras modalidades de transporte.


Com o acordo, prevê-se um aumento na importação de automóveis e peças de reposição, o que tende a reduzir os custos do transporte individual. Além disso, a queda nos preços de peças aeronáuticas pode reduzir os custos de manutenção de aeronaves, diminuindo o custo das passagens aéreas. Ambos os efeitos podem tornar automóveis e aviões opções mais atrativas, especialmente em viagens longas, reduzindo a demanda pelo transporte rodoviário de passageiros, principal mercado da Marcopolo.


Outro aspecto relevante a ser mencionado diz respeito à eletrificação da frota de ônibus no Brasil. Embora uma transição completa ainda esteja distante, grandes centros urbanos, como São Paulo, já vêm investindo na adoção de ônibus elétricos. Trata-se de um mercado ainda pouco explorado no país, mas com claras oportunidades de crescimento.


A Marcopolo, atenta a essa tendência, desenvolveu sua própria linha de ônibus elétricos, a Attivi, com chassi produzido internamente. No entanto, países como França, Alemanha e Países Baixos possuem maior experiência e domínio tecnológico no setor, o que pode levar à entrada de concorrentes europeus com preços mais competitivos e soluções mais avançadas. Nesse cenário, há o risco de empresas nacionais, como a Marcopolo, serem deixadas à margem de um segmento estratégico para o futuro da mobilidade urbana.


Em suma, o avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia representa uma oportunidade estratégica para o comércio exterior brasileiro. Para empresas como a Marcopolo, o cenário inédito combina riscos e possibilidades: a abertura comercial aumenta a concorrência, mas também favorece quem souber explorar nichos específicos e investir em inovação. No fim, a vantagem não estará em proteger o mercado, e sim em saber se adaptar às novas regras do jogo, e o jogo já começou.

bottom of page