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A influência da China no mercado de aço

Como a China domina o setor siderúrgico e quais são seus impactos na indústria?


Felipe Ramos, Júnior do Grupo



A China, há décadas, consolidou-se como a principal potência siderúrgica do mundo, sendo responsável por mais de 50% do aço global e influenciando diretamente os preços e a competitividade da indústria em diversos países. Porém, para entender essa força chinesa, voltaremos alguns anos. Em 1978, Deng Xiaoping iniciou uma política de reformas e abertura econômica, de modo a liberar setores da economia e incentivar investimentos estrangeiros. Assim, a partir dos anos 2000 e, especialmente após a crise de 2008, seu crescimento acelerado se intensificou e foi impulsionado por um vasto programa de urbanização e investimentos pesados em infraestrutura, que criou uma forte demanda interna por aço. No entanto, desde 2020, o país tem enfrentado uma desaceleração econômica significativa, refletida especialmente no setor imobiliário, que há anos era o maior consumidor de aço chinês.


Com a redução da demanda interna, a China gerou um grande excedente de produção, que, por sua vez, foi direcionado ao mercado externo. Mesmo assim, o país ainda consome mais aço do que a soma dos Estados Unidos e do Brasil, fato que reforça sua posição central no setor siderúrgico. Já seu excesso de oferta resultou em um crescimento exponencial das exportações chinesas, que atingiram uma penetração de 18,5% no mercado brasileiro em 2024 e passou a pressionar as siderúrgicas locais a enfrentarem uma concorrência cada vez mais acirrada.


A principal consequência desse movimento foi a desvalorização global do aço. O preço médio da tonelada de aço chinês caiu 12,3% entre 2018 e 2024, enquanto o aço brasileiro reduziu seu preço em 11,9% no mesmo período. Essa diferença percentual, por mais que seja pequena, torna o aço chinês muito mais competitivo em termos de valor bruto, já que a China vende seu aço a $463 versus $700 do aço nacional. Essa distância de $363 acaba por se caracterizar como um dumping predatório para a indústria, pois a China permanece a vender seus produtos por preços desleais e abaixo do custo de produção. Cabe destacar que a principal razão dessa disparidade de valores é o fato de o aço chinês ser subsidiado pelo Estado, o que dificulta uma disputa justa pelo mercado.


Preço do aço em USD/t (Fonte: Trading Economics, S&P Global)



Tal subsídio explica o porquê, mesmo com a imposição de tarifas protecionistas e o acréscimo de 25% sobre o aço importado da China, o volume de importações chinesas continua a crescer. Como comparação, nota-se que apenas nos primeiros nove meses de 2024, o volume de aços planos importados da China já havia superado o total registrado em 2023, evidenciando que, mesmo com barreiras tarifárias, a produção chinesa ainda dita os preços globais e afeta diretamente a competitividade da indústria siderúrgica. Mas a pergunta que fica é: de onde surgiu essa “crise” econômica?


O principal gatilho dessa disparidade de preços está na desaceleração da construção civil chinesa, agravada pela falência da Evergrande em 2022. O colapso da gigante do setor imobiliário, que acumulava dívidas bilionárias, gerou um efeito dominó que reduziu investimentos em infraestrutura e construção, setores historicamente responsáveis por consumir grandes volumes de aço. Com menos demanda interna, siderúrgicas chinesas tiveram que escoar sua produção para outros mercados, incluindo o Brasil, de maneira a intensificar a pressão sobre fabricantes de outros países e a gerar distorções nos preços.


Neste cenário desafiador, é importante analisar o posicionamento das empresas brasileiras e como elas se defendem da ameaça asiática. Assim, observa-se que a Gerdau se encontra em uma posição estratégica diferenciada. A empresa é uma das maiores produtoras de aços longos das Américas, um segmento que tem sido menos impactado pela invasão chinesa. No Brasil, a 528 463 795 700 860 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 importação de aços planos supera em 2,2 vezes a de aços longos, o que reduz a concorrência direta da Gerdau com os produtos chineses. Porém, a companhia não está totalmente protegida desse fenômeno global, já que 26% de sua produção é composta por aços planos, justamente a categoria mais vulnerável à prática de dumping. Esse cenário exige da Gerdau medidas estratégicas para mitigar os impactos da competição predatória imposta pelo aço chinês.


Taxa brasileira de importações vindas da China (Fonte: Aço Brasil)



Logo, a empresa tem respondido com fortes investimentos na modernização de sua estrutura produtiva e na diversificação de mercados. A Gerdau tem direcionado seu capital para aprimorar a eficiência operacional de suas plantas, reduzir custos de produção e aumentar sua integração vertical, como a recente aquisição da Dales Recycling, uma empresa de reciclagem de sucata nos Estados Unidos. Além disso, a companhia tem apostado em segmentos premium e de alto valor agregado, que são menos suscetíveis à concorrência direta com o aço de menor custo.


Mesmo com essas iniciativas, o cenário global siderúrgico segue incerto. A grande questão é se novas barreiras protecionistas serão implementadas ou se o mercado será capaz de se ajustar a essa nova realidade de preços. A Gerdau, apesar de relativamente mais protegida que outras siderúrgicas, ainda precisa 18% 20% 20% 23% 34% 55% 56% 70% 69% 74% 2019 2020 2021 2022 2023 Produtos Longos Produtos Planos navegar com cautela nesse ambiente competitivo, de modo a buscar inovações e estratégias que garantam sua posição de destaque no setor. Por enquanto, o avanço do aço chinês continua a remodelar a indústria siderúrgica global, acirrando a competitividade em um mercado cada vez mais pressionado por custos.



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