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Liderança e Legado: A Saída de Warren

  • Foto do escritor: Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
    Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

BuffettApós décadas à frente da Berkshire Hathaway, Warren Buffett encerra suatrajetória como CEO e prepara a companhia para o futuro sob nova liderança.


Felipe Ramos (Júnior do Grupo)



Warren Buffett, um dos investidores mais emblemáticos da história do mercado financeiro, se despede do cargo de CEO da Berkshire Hathaway com a mesma calma e sabedoria que marcaram toda a sua trajetória. Aos 94 anos, o investidor mais admirado do mundo anunciou sua aposentadoria durante a tradicional reunião anual da empresa, que aconteceu na última semana, em Omaha. Para quem acompanha a história da Berkshire, o momento foi marcante não apenas pela despedida, mas pela maneira como Buffett, mais uma vez, mostrou estar sempre um passo à frente. Ele indicou Greg Abel, seu braço direito nos negócios não relacionados a seguros, como o nome ideal para assumir o comando da companhia. Uma escolha que já vinha sendo esperada e que traz tranquilidade a acionistas e admiradores.


Greg Abel está na Berkshire há mais de duas décadas e atualmente comanda todos os negócios da holding fora do setor de seguros, um conjunto de operações que representa mais da metade do lucro operacional da companhia. Ele é CEO da Berkshire Hathaway Energy, uma das maiores holdings de energia dos EUA, que, sob sua gestão desde 2008, multiplicou seus ativos, avançou fortemente na transição energética e entregou retornos consistentes. Com foco em energia renovável, infraestrutura, transporte e distribuição, a operação liderada por Abel tornou-se um dos pilares de crescimento da Berkshire e é hoje responsável por bilhões em lucros anuais. Ao longo dos anos, ele mostrou ser um operador disciplinado, avesso ao ruído de Wall Street, comprometido com a alocação racional de capital e a construção de valor de longo prazo, sendo exatamente os traços que definem a filosofia de Buffett.


Mais do que um gestor técnico, Abel representa a continuidade da cultura da Berkshire: uma empresa que opera de forma descentralizada, com gestores independentes, decisões orientadas por valor e resistência à pressão por resultados trimestrais. Ao contrário da maioria dos executivos que vivem sob os holofotes e os ciclos curtos exigidos por analistas e investidores de curto prazo, Abel sempre seguiu o caminho traçado por Buffett: pensar como proprietário, evitar modismos e tomar decisões que resistam ao tempo.


A despedida de Buffett vem acompanhada de decisões estratégicas que reforçam seu faro apurado para movimentos econômicos. Em 2024, a Berkshire fez uma série de vendas importantes na bolsa, que incluem a redução de dois terços da sua participação na Apple, um dos maiores e mais emblemáticos investimentos da companhia nos últimos anos. Pouco tempo depois dessas vendas, já em 2025, os mercados americanos foram sacudidos por novas turbulências provocadas pelo retorno de Donald Trump à presidência e pela imposição de tarifas que reacenderam tensões comerciais. Para muitos analistas, ficou claro que Buffett conseguiu, mais uma vez, enxergar o cenário com antecedência e proteger seu portfólio antes da tempestade.


E a postura cautelosa não parou por aí. Já nos primeiros três meses do ano, a Berkshire continuou a vender mais do que comprar: foram US$ 1,5 bilhão a menos em ações na carteira. Essa estratégia de redução da exposição ao mercado acionário teve um efeito claro: no primeiro trimestre de 2025, a empresa acumulava uma reserva de caixa de impressionantes US$ 347,7 bilhões, o maior valor já registrado em sua história. Esse nível de liquidez mostra que, mesmo com boas oportunidades no mercado, Buffett preferiu manter munição para momentos mais oportunos, uma decisão que reforça sua famosa filosofia de “esperar a bola boa para bater”.


Apesar da solidez da empresa, o lucro operacional da Berkshire nesse primeiro trimestre recuou 14% em relação ao mesmo período do ano anterior. A queda reflete o cenário mais desafiador da economia global, embora não tenha abalado a robustez financeira da companhia. Mesmo com a redução de exposição em ações americanas, a Berkshire manteve sua aposta em grandesconglomerados japoneses, como Mitsubishi e Marubeni, sinalizando que a diversificação internacional continua sendo um pilar estratégico.


Portfólio Berkshire Hathaway:



A transição da liderança marca o fim de uma era. Sob o comando de Buffett, a Berkshire foi transformada de uma empresa têxtil à beira da falência em uma das maiores holdings do mundo, com participações relevantes em empresas como Coca-Cola, American Express, Apple e diversas operações industriais e de infraestrutura. Sua filosofia, baseada em disciplina, racionalidade, aversão ao endividamento e visão de longo prazo, virou referência global e moldou a forma como investidores enxergam o valor de uma empresa. Agora, com Greg Abel prestes a assumir o comando, a Berkshire entra em uma nova fase. Mas não se trata de ruptura. Trata-se de continuidade. Abel não chega para reinventar acompanhia, e sim para preservar o que ela tem de mais valioso: uma cultura que pensa a décadas, e não a trimestres.

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