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A Outra Guerra de Putin: uma Economia em Decadência

  • Foto do escritor: Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
    Grupo de Negócios da Escola Politécnica da USP
  • 22 de mai.
  • 3 min de leitura

Com petróleo em queda, déficit triplicado e nova onda de sanções, a Rússia enfrenta um desgaste econômico cada vez mais difícil de esconder.


Por Gustavo Rabinovitz (Sênior do Grupo)


A última semana foi intensa para quem acompanha as principais notícias. Novo Papa no Vaticano, conflito oscilante entre Índia e Paquistão, aumento da Selic no Brasil e a t



rama dos escândalos no INSS. Em meio a esse turbilhão de notícias, a Rússia, que trava uma brutal guerra



contra a Ucrânia há mais de três anos, tem cada vez mais perdido a atenção dos leitores globais, apesar da sequência do conflito. Só que longe dos holofotes, a situação econômica do país piora de forma constante.


Desde o início da invasão em 2022, a economia russa foi colocada à prova. Sanções pesadas, boicotes comerciais, congelamento de ativos. Ainda assim, Moscou conseguiu resistir mais do que se previa. O petróleo caro, as novas rotas de exportação via China e Índia, e o uso estratégico das reservas internacionais garantiram um tempo relevante para o Kremlin. Mas essa resistência comprada a alto custo agora tem mostrado as suas instabilidades.


A primeira fissura evidente é o petróleo. O preço do barril Urals, que é o principal exportado pela Rússia - mais pesado e com mais impurezas, e por isso mais barato que o petróleo europeu - caiu abaixo da meta usada para fechar o orçamento O preço médio de US$ 65 por barril foi abaixo da meta inicial de US$ 71,30 para 2024. Para 2025, o governo russo revisou ainda mais para baixo a expectativa, cortando a projeção de US$ 69,70 para apenas US$ 56, o que agrava o cenário fiscal e aumenta a pressão sobre o orçamento de guerra.


Preço (USD) do barril de Crude Oil Urals Europe CFR Spot em 2024 (Fonte: Investing.com)



Rússia continua exportando grandes volumes, mas com margens menores. O que antes sustentava o financiamento da guerra agora pressiona as contas públicas. Isso resultou em uma revisão da projeção de déficit para 2025, que triplicou, chegando a 1,7% do PIB. Além disso, houve uma redução significativa na perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto para esse ano pelos mesmos motivos, de 2,5% a menos de 1,8%.


Projeções de Déficit Orçamentário (% do PIB) e Crescimento do PIB (%) da Rússia para 2025 (Fonte: Reuters)


O governo de Putin não apenas arrecada menos mas também gasta mais. O gasto militar russo já chega a 6,3% do PIB, um patamar típico de países em guerra total, difícil de sustentar por longos períodos, devido ao volume de dívidas que o país deve emitir para tal. A política monetária ajuda pouco a aliviar o cenário. O Banco Central russo manteve os juros em 21%, na tentativa de conter uma inflação que segue persistente, entre 7% e 8%.

Entretanto, com taxas tão altas, a economia trava. A Rússia hoje está em pleno quadro de estagflação: inflação alta, crescime



nto fraco e deterioração contínua do poder de compra da população. Um ponto difícil de escapar.


Os efeitos desse fenômeno econômico aparecem no chão da economia real. Um dos setores mais atingidos é o automotivo. A indústria automotiva russa sofre com a falta de peças importadas, atrasos de produção e uma frota envelhecendo rapidamente. Sem capacidade de modernização, o setor expõe a dificuldade estrutural da Rússia em manter setores industriais competitivos sem acesso à tecnologia ocidental.


E a pressão internacional sobre a Rússia promete apertar ainda mais. De acordo com reportagem do El País publicada em 7 de maio, a União Europeia está acelerando a aprovação de seu 17º pacote de sanções, buscando aumentar o desgaste econômico de Moscou. A novidade é que, além de reforçar restrições já existentes, o novo pacote mira empresas intermediárias de países terceiros, uma tentativa de fechar as brechas que ainda permitem à Rússia importar tecnologia militar e peças estratégicas.


Diante desse cenário, fica difícil sustentar a ideia de que a economia russa resistiu sem danos à guerra econômica. Na prática, o que se vê é um processo de deterioração lento, mas constante. A combinação de petróleo mais barato, déficit explosivo, inflação persistente, colapso industrial e isolamento crescente forma um quadro que desafia qualquer narrativa de resiliência, e apresenta um risco elevado ao maior país do mundo.


O risco, no entanto, não é um colapso abrupto, como já visto em outros momentos da história, mas um enfraquecimento contínuo da economia russa. O país ainda se mantém de pé, mas a um custo cada vez maior, e sem sinais claros de que essa tendência possa ser revertida. Ignorar esse movimento só porque não há um evento dramático acontecendo seria um erro. O que está ocorrendo é um desgaste que, mais cedo ou mais tarde, vai mostrar seus efeitos de forma clara, e quem sabe colocará a Rússia de volta nas manchetes mais chamativas.

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